
"Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez." Essa frase de Jean Cocteau retrata bem a trajetória vivida por William Kamkwamba, interpretado pelo ator Maxwell Simba no filme: O Menino que Descobriu o Vento, lançado no início deste mês na Netflix. A família do jovem vivia o drama da seca em Malawi, país africano que faz fronteira com Moçambique e tem pouco mais de 18 milhões de habitantes.
Vivendo todo tipo de privação e dependendo totalmente dos alimentos extraídos da própria terra, a família do jovem se viu condenada a sofrer as consequências da estiagem. Sem condição de pagar os estudos do pequeno William, de 13 anos, o menino se refugia por algum tempo na biblioteca da precária escola da região e descobre nos livros a possibilidade de redenção.
O drama é digno de aplausos e um tapa de luvas em empreendedores que pensam em desistir já no primeiro obstáculo. Diante das adversidades e da falta de oportunidades, o plano em transformar vento em energia não poderia falhar. O Produto Minimamente Viável (PMV) foi validado em um pequeno rádio movimentado por uma hélice feita de sucata.
Falhar rápido, quando se pode falhar
Estamos aprendendo nos manuais de empreendedorismo que falhar faz parte do processo de aprendizado e precisamos exercitar nossa mente a partir dos erros e acertos, o que implica o desenvolvimento de uma ideia. "Falhar rápido e aprender rápido". No entanto, quando as oportunidades, recursos e o tempo são escassos, errar é a última coisa a ser considerada. William sabia que só teria uma chance. Ele foi lá e fez!
O filme não é apenas sobre a história de superação de uma comunidade frente às adversidades. É um exemplo transparente de como a educação e o conhecimento, somados a um propósito claro, podem transformar as pessoas. A história retratada no filme nem de longe se parece com o sucesso das startups que surgem nos inúmeros espaços compartilhados mundo afora.
A internet não está para todos
Segundo dados de 2016 da International Telecommunication Union (ITU), em Malawi, país retratado no filme, apenas 6,5% da população tem acesso à internet. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos essa taxa chega a 76% - dados também de 2016. Sabemos hoje que o volume de conhecimento despejado na internet cresce exponencialmente a cada ano e a diferença entre ricos e pobres está intimamente ligada à educação e ao acesso ao conhecimento. Será que a vontade, perseverança e resiliência conseguem, mesmo assim, reduzir esse abismo digital?
A história do filme deveria ser transmitida para os alunos e, principalmente, para os aspirantes em empreendedorismo. A história baseada em fatos reais mostra ao mundo que empreender não é apenas colocar em prática uma ideia incrível para mudar o mundo. Empreender é superar desafios básicos, transpor limites e acreditar que o mundo pode ser um lugar mais justo e melhor para todos.
Essa história real tem final feliz. A trajetória do jovem foi retratada em livro e ganhou o mundo. Em 2013, a revista norte-americana Time classificou o empreendedor como uma das 30 pessoas com menos de 30 anos que estão buscando mudar o mundo. Um ano depois, Kamkwamba recebeu um diploma de Bacharel em Estudos Ambientais do Dartmouth College, em Hanover, New Hampshire, nos Estados Unidos, e o reconhecimento não para de chegar. Que bons ventos levem o exemplo do jovem africano para todo o mundo.
Comentários
As opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores, não serão aceitas mensagens com ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência. Clique aqui para acessar a íntegra do documento que rege a política de comentários do site.